É DOUTRINA SOCIAL, E NÃO PARTIDO DO GOVERNO, QUE PAUTA A CNBB, GARANTE DOM SÉRGIO
CNBB não muda posição política e social com a mudança da
presidência, explicou dom Sérgio da Rocha, presidente da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil na primeira entrevista coletiva à frente da entidade, no
encerramento da 53ª Assembleia Geral, em Aparecida, 24. “Essa postura profética
que sempre acompanhou a vida da Igreja, a vida da CNBB, vai continuar”,
afirmou.
Na entrevista, jornalistas questionaram se a entidade dará
continuidade aos posicionamentos sobre questões sociais e políticas, com a
mudança da gestão.
Dom Sérgio respondeu que a presidência não age sozinha e que
dará “sequência àquilo que tem sido o papel da CNBB na Igreja no Brasil nesses
anos todos”. Nas notas oficiais, explicou ele, “não se reflete aquilo que é o
sentir da presidência, mas do episcopado”.
— Não podemos renunciar a esse aspecto que é próprio da
missão da Igreja e da CNBB na Igreja no Brasil, que é o profetismo, uma postura
de anúncio da Palavra de Deus nas condições concretas do mundo de hoje,
principalmente denunciando aquilo que vai contra a palavra de Deus, contra o
Reino de Deus, independente da matéria que esteja em pauta —, destacou o
presidente, que também é arcebispo de Brasília. “Fazemos isso sempre na
fidelidade a Cristo, iluminados nas palavras Dele”, ponderou.
Independência
A presidência também foi questionada sobre as acusações de
que as atitudes da CNBB seriam favoráveis ao partido do governo. Dom Sérgio
reafirmou que a entidade não tem “adotado e não queremos adotar nenhuma posição
que seja político-partidária”.
É a Doutrina Social da Igreja que pauta a Conferência hoje e
ao longo de sua história. No caso da Reforma política, há projetos diferentes
do proposto pela Coalizão, da qual a CNBB participa.
— Então não é justo, às vezes as pessoas não estão muito
atentas aos detalhes, às vezes vão misturando as coisas — analisou, antes de
acrescentar que “o fato da Igreja falar da reforma política, mostrar a
importância da palavra política não quer dizer que esteja adotando uma posição
que seja do governo que aí está ou então de um partido ou outro”.
Dom Sérgio lamentou que às vezes, confundem-se as coisas
dependendo daquilo que se fala.
— Eu deixo muito claro que se há equívocos, a gente
respeita, até mesmo pessoas que possam ter uma postura mais crítica, mas, de
nossa parte, aquilo que tem sido e que continuará a ser é uma postura de
autonomia, de independência diante daquilo que é posição político-partidária —,
garantiu.
Notas
A nota mais polêmica da assembleia foi sobre o momento
nacional. Trata-se da reflexão que partiu da análise apreensiva do episcopado
diante da realidade brasileira “marcada pela profunda e prolongada crise que
ameaça as conquistas, a partir da Constituição Cidadã de 1988, e coloca em
risco a ordem democrática do País”.
“Desta avaliação nasce nossa palavra de pastores convictos
de que ‘ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião para a intimidade
secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos
preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar
sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos’”, afirmaram os bispos
citando a Exortação Apostólica do papa Francisco, Evangelii Gaudium.
A Conferência também divulgou notas dirigidas às pessoas da
Vida Consagrada, por ocasião do Ano da Vida Consagrada e aos diáconos
permanentes que comemoram os 50 anos da restauração do diaconato permanente. Os
bispos também se dirigiram aos cristãos perseguidos e ao povo armênio, por
ocasião do centenário do genocídio que ceifou a vida de 1,5 milhão de cristãos,
canonizados simbolicamente pelo líder da Igreja Armênia.
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