CNBB DIVULGA NOTA SOBRE A REALIDADE ATUAL DO BRASIL
“O que nós devemos procurar fazer é estabelecer cada vez
mais um diálogo entre as diversas instituições, entre os poderes constituídos,
a sociedade, as entidades da sociedade civil”, afirmou o arcebispo de Aparecida
(SP) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal
Raymundo Damasceno Assis, durante entrevista coletiva nesta quinta-feira, dia
12, na sede da instituição, em Brasília.
Na ocasião foi divulgada a nota da Conferência sobre a
realidade atual do Brasil. O texto foi aprovado na reunião do Conselho
Permanente, ocorrida de 10 a 12 de março, e tem o objetivo de alertar para o
possível enfraquecimento do Estado Democrático de Direito, frente ao “delicado
momento pelo qual passa o país”.
Dom Damasceno ainda ressaltou a necessidade de preservar o
Estado Democrático de Direito. “Depois de muitos anos difíceis pelos quais
passamos durante o período do Regime Militar, creio que em nenhum momento deve
ser quebrada essa ordem democrática”, salientou.
Quanto às manifestações, o presidente da CNBB as considerou
normais dentro do regime democrático para que as pessoas reivindiquem seus
direitos e demonstrem sua insatisfação. “Nós achamos legítimas essas
manifestações contanto que elas transcorram no respeito ao patrimônio público,
ao patrimônio particular, às pessoas que participam das manifestações. Mas na
medida em que elas podem se transformar em manifestações de desrespeito à ordem
pública, ao patrimônio público, às pessoas, evidentemente que isso cria um
clima de intranquilidade, de insegurança e de violência que não contribuem em
nada para a manutenção do Estado de Direito, democrático”, enfatizou.
O bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom
Leonardo Steiner, falou da importância dos posicionamentos diferentes mostrados
nas ruas. “A reação que nós sentimos também é que as manifestações de rua são
de discordância, muitas vezes ideológica que é normal e diria, inclusive,
necessária e democrática”, considerou.
Conselho Permanente
Durante a reunião do Conselho Permanente também foi dada
continuidade à preparação para a 53ª Assembleia Geral da CNBB; além dos membros
terem abordado o Projeto Missionário Intercongregacional que a Igreja no Brasil
promove no Haiti, desde 2010, e a criação da Escola Nacional de Formadores
“Jesus Bom Pastor”.
Leia a nota na íntegra:
Nota da CNBB sobre a realidade atual do Brasil
“Pratica a justiça todos os dias de tua vida e não sigas os
caminhos da iniquidade” (Tb 4, 5)
O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, nos dias 10 a 12 de março de 2015,
manifesta sua preocupação diante do delicado momento pelo qual passa o País. O
escândalo da corrupção na Petrobras, as recentes medidas de ajuste fiscal
adotadas pelo Governo, o aumento da inflação, a crise na relação entre os três
Poderes da República e diversas manifestações de insatisfação da população são
alguns sinais de uma situação crítica que, negada ou mal administrada, poderá
enfraquecer o Estado Democrático de Direito, conquistado com muita luta e sofrimento.
Esta situação clama por medidas urgentes. Qualquer resposta,
no entanto, que atenda ao mercado e aos interesses partidários antes que às
necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e desvia-se
do caminho da justiça. Cobrar essa resposta é direito da população, desde que
se preserve a ordem democrática e se respeitem as Instituições da comunidade
política.
As denúncias de corrupção na gestão do patrimônio público
exigem rigorosa apuração dos fatos e responsabilização, perante a lei, de
corruptos e corruptores. Enquanto a moralidade pública for olhada com desprezo
ou considerada empecilho à busca do poder e do dinheiro, estaremos longe de uma
solução para a crise vivida no Brasil. A solução passa também pelo fim do
fisiologismo político que alimenta a cobiça insaciável de agentes públicos,
comprometidos sobretudo com interesses privados. Urge, ainda, uma reforma
política que renove em suas entranhas o sistema em vigor e reoriente a política
para sua missão originária de serviço ao bem comum.
Comuns em épocas de crise, as manifestações populares são um
direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado. O que se
espera é que sejam pacíficas. “Nada justifica a violência, a destruição do
patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e
Instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir
diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se
os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva,
que leva ao seu descrédito” (Nota da CNBB 2013).
Nesta hora delicada e exigente, a CNBB conclama as
Instituições e a sociedade brasileira ao diálogo que supera os radicalismos e
impede o ódio e a divisão. Na livre manifestação do pensamento, no respeito ao
pluralismo e às legítimas diferenças, orientado pela verdade e a justiça, este
momento poderá contribuir para a paz social e o fortalecimento das Instituições
Democráticas.
Deus, que acompanha seu povo e o assiste em suas
necessidades, abençoe o Brasil e dê a todos força e sabedoria para contribuir
para a justiça e a paz. Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, interceda
pelo povo brasileiro.
Brasília, 12 de março de 2015.
Dom Raymundo Cardeal
Damasceno Assis
Arcebispo de
Aparecida – SP
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da
Silva, OFM
Arcebispo de São Luis
do Maranhão – MA
Vice Presidente da
CNBB
Dom Leonardo Ulrich
Steiner, OFM
Bispo Auxiliar de
Brasília
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