Rio+20, Economia Verde, Governança e erradicação da pobreza serão temas que dominarão os espaços da mídia nos próximos meses, até o mês de junho de 2012, isso porque em seu último ano de governo, o ex-presidente Lula, sugeriu à Organização das Nações Unidas, que se realizasse uma Conferência sobre o meio ambiente, para avaliar os resultados da ECO 92, quando se debateu as questões ambientais em todo o mundo.

Assim, será realizada entre os dias 13 e 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro a RIO+20 (Rio mais 20), ou seja a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, quando se pretende reunir todos os governantes e chefes de Estados para discutir os rumos do desenvolvimento do mundo.


Como proposta a este desenvolvimento, os setores ricos da sociedade, entre eles, donos dos bancos, grandes empresas multinacionais, associados aos países ricos, comprometidos apenas com interesses particulares e com o lucro, propõem uma plataforma de “esverdeamento” da economia, como possível solução para as crises que afetam a vida no planeta.

Segundo eles, a Economia Verde, seria capaz de atender todas as nossas necessidades, até erradicar a pobreza que afeta o mundo. Mas o que é essa Economia Verde? Segundo seus defensores, trata-se de uma estratégia de “incentivar a produção e consumo, ao passo em que se atribuiria um valor aos serviços da natureza”, fazendo com que tudo aquilo que o planeta faz gratuitamente, tenha um custo para quem deles fazem uso. Por exemplo, aqueles países que emitem muito gás carbônico, que tem muitos carros, deveria pagar um valor relativo à quantidade de poluição do ar.


Para os movimentos sociais, esta plataforma é uma tentativa de maquiar a economia de verde, de forma a manter as velhas práticas do capitalismo opressor, causa real das desigualdades sociais, da fome, morte e principalmente da destruição do planeta. Para estes, o momento em que vivemos exige um debate maior, afinal a conjuntura mundial nos mostra que atravessamos uma Crise de Civilização. Isso porque estamos em um momento onde toda a humanidade geme de dor, diante da fome, da miséria, da pobreza de muitos, e da riqueza exagerada de poucos.

Erradicar a pobreza deve ser o objetivo de todos, entretanto, os defensores da Economia Verde, defendem acabar com a pobreza, mantendo as estruturas de poder e opressão fruto das grandes riquezas e do poder na mão de poucos. Para os movimentos sociais, não se acaba com a pobreza, mantendo as grandes riquezas e o poder na mão de poucos. É preciso promover a Justiça Ambiental, de forma a reduzir as desigualdades sociais, na medida em que se promove a equidade social. Isso não quer dizer que se deve frear o consumo, mesmo estando o planeta em um estágio já avançado de destruição. É preciso, no entanto, que os ricos reduzam o seu padrão de consumo, para que os pobres tenham acesso a consumir o necessário a uma vida digna.


Paulo, quando escreve a Carta aos Romanos (Rm 8, 22), já chamava a nossa atenção para o fato de que “toda a criação geme em dores de parto”, e essas “dores” se intensificarão na medida em que o homem passar a comercializar os serviços que a Terra, gratuitamente nos oferece. Para o teólogo Leonardo Boff é imprescindível que se estabeleça uma nova relação entre o homem e o planeta, para ele, ”a relação para com a Terra tem que mudar. Somos parte da Gaia”. Essa relação deve-se pautar por uma dimensão de interligação entre homem e planeta. O planeta é a nossa Casa Comum, é a extensão do nosso ser. Na medida em que estabelecemos um desenvolvimento que atenta contra a nossa Casa, estamos atentando contra nós mesmo.

Se na carta aos Romanos, São Paulo já advertia para o fato de que a criação espera com impaciência a manifestação dos filhos de Deus (Rm. 8, 20), hoje, diante da ameaça que a vida na terra sofre, é possível dizer que a criação grita insistentemente de dores, pela intervenção dos filhos de Deus, especialmente quando nos deparamos com o fato de que a cada 3,6 segundos uma pessoa morre de fome, estando ainda 3,7 bilhões de pessoas vivendo com menos de R$ 3,46 por dia.

Esse contexto de dor e de sofrimento que a humanidade atravessa é fruto do egoísmo avassalador, do dinheiro e do poder que cada vez mais corrompe as estruturas e põem em cheque a vida no planeta.

Durante a RIO+20 acontecerá a Cúpula dos Povos, espaço destinado a todos nós, que somos sociedade civil organizada, e que terá como objetivo juntar o eco de todas as pessoas, movimentos e organizações que defendem a construção de uma nova sociedade. Sociedade essa, onde as “dores” do planeta, da fome, da pobreza, da miséria, da injustiça e das desigualdades sociais, sejam superadas, através do entendimento maior de que todos somos irmãos, iguais, e temos como extensão de nós, o nosso planeta que é a nossa Casa Comum.


Precisamos entender o momento em que vivemos, suas demandas e exercer o protagonismo, tipicamente juvenil, de ser e estar presente nas lutas face á defesa dos segmentos mais fragilizados, mais oprimidos. É preciso ter a clareza de que ou atuamos juntos, agora em defesa da defesa da vida humana e do Planeta ou, em um futuro breve poderemos não ter um planeta para viver.

Assim, finalizamos com as palavras finais da Carta da Terra, com a esperança de que “o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e pela paz” na perspectiva de construção de uma sociedade onde Deus/Amor reine para todos.


Hugo Paixão - São Paulo-SP
Bacharel em Direito, atua na área dos Direitos Humanos, no SEFRAS – Serviço Franciscano de Solidariedade e acompanha o Comitê Paulista para a RIO+20.