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As polêmicas em torno das obras de transposição do Rio São Francisco voltaram à pauta dos brasileiros após o anúncio feito pelo novo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, de um provável aumento nos valores da obra. De acordo com o ministro, o projeto deve ter seu custo ampliado em 40%. Ou seja R$ 2 bilhões a mais que os R$ 5 bilhões previstos até o momento.

"Ainda é cedo para anunciar o gasto total, mas se todos os pedidos de aditivos a preços contratuais forem atendidos, a obra poderá ter essa correção", afirmou Coelho. Outra mudança deverá ocorrer nos prazos da obra, cujo Eixo-Leste, do Lago de Itaparica, em Pernambuco, até a Paraíba - deve ser concluído no fim de 2012, quando o prazo inicial era 2010. E o Eixo-Norte (de canais da transposição do São Francisco), de Cabrobó (PE) em direção ao Ceará e ao Rio Grande do Norte, deve ser concluído até o fim de 2013. Ainda segundo o ministro, para analisar novos custos e prazos, uma comissão dentro da pasta foi formada e já está estudando todos os pedidos de alterações e atrasos. Uma definição deverá ser divulgada no fim deste mês.

Para o coordenador do Núcleo de Estudos do Semiárido da Fundação Joaquim Nabuco, o engenheiro agrônomo João Suassuna, esta alteração dos preços já deveria estar prevista desde o inicio das obras, em 2007. "Os cálculos mais positivos são de que o governo consiga avançar 100 metros de canal por dia. Para a conclusão da obra, será preciso 700 quilômetros de canais, isso dá um total de sete mil dias, contando que não haja interrupção. Traduzindo, o prazo mais otimista para a conclusão da transposição é no ano de 2036", afirmou o engenheiro.

Para João Suassuna, quase todas as empreiteiras que estão participando do projeto querem o reajuste dos custos da obra. "As licitações para a transposição não levaram em consideração a inflação, nem a dificuldade das obras. Existem pontos que precisam de bombas caríssimas, que só vendem fora do Brasil. Isso tudo foi aumentando as despesas até o ponto de os construtores pressionarem o governo para mudar os valores contratados sob o risco de abandonar o projeto", explicou o engenheiro. O engenheiro afirmou também que até o final do projeto os custos da transposição deverão sofrer novos reajustes. "O governo federal deverá aceitar esse aumento e os outros que virão porque caso contrário ficará sem opção de mão de obra", finalizou.

(Diário de Pernambuco, 15 de março de 2011)


Desemprego nas obras da transposição

Nos canteiros das obras da Transposição do Rio São Francisco o cenário é insustentável. Depois de gastos bilhões, de despejarem milhares de famílias camponesas, ribeirinhas e indígenas de suas terras e de serem responsáveis uma devastação ambiental de proporção gigantesca na região, as obras encontram-se paradas. O antigo discurso de geração de empregos para a região também não se sustenta. Só nas últimas semanas, as empresas responsáveis pelos serviços da Transposição, na região do Cuncas I, cidade de São José de Piranhas, PB, anunciaram a demissão de vários operários.

Depois de demitirem 150 operários no mês passado, pelas empresas que integram o 'Consórcio Carioca’, o grupo anunciou, ontem (dia 15 de março) mais 80 demissões, totalizando somente este ano 220 operários que ficaram desempregados na região. De acordo com Jossean Alves, da Comissão Pastoral da Terra, que acompanha comunidades camponesas atingidas pelas obras na região, “essa obra não vem trazer geração de empregos, não veio beneficiar as populações. Percebemos que há uma insatisfação muito grande por parte das famílias, dos trabalhadores, que sabem que de fato, apenas os grandes proprietários e grandes empresas serão beneficiados.”


Setor de comunicação da CPT NE II, com informações do Diário do Sertão – PB, 15


Fonte: www.cptpe.org.br