A espiritualidade ecológica nos faz ver a importância dos acenos de Deus, na vida da Natureza e na vida dos nossos Semelhantes. É simplesmente uma atitude de observação! A natureza ao redor de nós é um aceno vital de Deus pelo ser humano! Este aceno pode ser visto quando os ventos balançam constantemente os ramos brilhantes do verdejante das florestas. Para percebermos esse aceno Divino direcionado a nós, é fundamental o senso de observação mental e espiritual, para as coisas vivas de Deus, na amplitude do meio ambiente onde vivemos.

Nesse ambiente, os acenos de Deus são incessantes! É só ficarmos atentos aos risos das flores, das crianças, dos adolescentes, dos jovens e dos adultos. Além disso, existem outros acenos, como o cântico dos passarinhos, o cântico dos galos e a melodia agradável da voz de cantores e cantoras do povo brasileiro e de outros povos do mundo inteiro. Tudo isso são acenos de Deus, nos pomares ecológicos da Natureza e nos pomares sociais da vida Humana.

Hoje é urgente uma educação de retorno à mãe Natureza e de apreciação aos valores uns dos outros. Não se trata de ver a Natureza como uma divindade à maneira dos mitos antigos, mas de contemplá-la como manifestação de um Deus bom, criador e amigo da humanidade. Este novo jeito de ver Deus na totalidade de suas obras vivas no universo da Criação, nós o chamamos de espiritualidade viva e ecológica.

Temos visto e aprofundado a ecologia, como ciência de relação amorosa e cuidadosa com o meio ambiente das espécies vivas, incluindo a espécie humana. Trata-se de uma ciência do cuidado e de preservação interrelacionalidade dessas espécies no todo da comunidade da Criação. Neste todo, somos humanidade que está incluída como ser pensante e importante, no grande corpo do Universo.

Esta consciência de corporeidade, isto é, de inter-relação e interdependência com tudo e com todos no jardim da Criação, nos faz ser mais responsáveis para com o meio ambiente de nossas atividades econômicas, políticas, sociais e religiosas. Todos esses aspectos de nossa existencialidade precisam ser integrados com ética, amor, justiça e fé. Estes valores, no entanto, precisam ser aprofundados e aplicados existencial e relacionalmente no processo de educação de nossa sociedade. Uma sociedade sem consciência desses valores e de tantos outros, como a amizade, a bondade, a generosidade, a gentileza e solidariedade, perde seu sentido de presença no todo da comunidade Cósmica.

Numa perspectiva de resgate desses valores, é fundamental colocar em comum nossos saberes e sabores na mesa redonda e dialogal da confraternidade. Penso que saberes e sabores humanos são importantes para a conservação do meio ambiente, em todo o nosso planeta mãe Terra. Assim, por meio dos saberes, nós humanos podemos somar a diversidade do conhecimento cientifico teórico e prático, na mesa redonda do debate dialogal sem fronteiras. Num debate assim, seres humanos educados e formados intelectual e profissionalmente, nunca se atacam agressivamente, mas buscam escutar atenciosamente uns aos outros, para compreender o essencial dos colóquios que cada pessoa está fazendo, em vista do bem comum.

Através da diversidade dos sabores humanos, buscamos celebrar simpatias e empatias, no banquete da confraternidade. É em torno deste banquete que compartilhamos nossos interesses pessoais e coletivos, na dimensão do ser para ter e do ter para ser na saciedade. Vamos mastigar mais esse conceito, para saborearmos sua essência no banquete dos amigos e amigas, onde o alimento nutriente é o ser, o ter e o saber compartilhados.

Quando falamos de ser para ter, entendemos que no campo relacional precisamos ser mais humano, ser gentil, inteligente para ter bons amigos e amigas, ter boas qualidades na arte de lidar com outros humanos na vida social, sem jamais humilhar nem maltratar ninguém, ter nossos bens materiais que proporcionem nosso bom viver em família, em comunidade e sociedade. Esta dimensão do ser para ter na vida, nos humaniza e nos direciona para a vivencia do princípio ter para ser em sociedade.

Nesse sentido, precisamos ter capacidade para ser amigo, amiga, sem interesse possessivo por coisas, ou por pessoas numa relação de amizade; ter habilidade para ser prestativo no cuidado com a família, com a comunidade e com o meio ambiente onde agimos e interagimos, na convivialidade de nossas relações humanas; ter os meios econômicos de sobrevivência que nos dão a condição social de sermos justos, honestos e generosos com os menos favorecidos da nossa sociedade; ter conhecimento para sermos capaz de agir e cooperar pessoal e coletivamente pelo bem comum; ter tecnologia de ponta para sermos mais eficientes no bom trato uns com os outros reconhecendo que somos semelhantes com qualidades e precariedades. E, com essa importante tecnologia, investirmos no cuidado responsável para com a questão social e ambiental.

Essa dimensão do ter para ser, portanto, nos educa e nos conscientiza de que a vida neste mundo, não um problema existencial para ser resolvido individualmente, mas uma grande graça ou chance oportuna para juntos, na mesa redonda dialogal da família, da comunidade e da sociedade, encontrarmos soluções sobre os desencontros e abismos no nosso relacionamento como espécie humana.

É dentro deste grande desafio, que o Deus vivo e criador nos acena através da Natureza, dos pobres e empobrecidos, para nos dizer: “Ó ser humano, já te foi revelado o que é bom e o que o SENHOR exige de ti: nada mais do que praticar o direito, amar a bondade e caminhar humildemente com o teu Deus!” (Miquéias 6,8). Profeticamente, este caminhar humildemente com Deus é caminhar humildemente uns com outros, lada a lado, de igual para igual numa busca comum do bem para todos.

Esse é o jeito da teologia profética, que hoje pode nos orientar para sermos felizes na vida e termos excelentes oportunidades, para evoluirmos no conhecimento do Deus, de nós mesmos e da Natureza. Portanto, esta evolução requer de nós seres humanos, bastante humildade, serenidade e gentileza no relacionamento uns com os outros e com a Natureza. Lembro-me agora do importante pensamento de Augusto Cury: “A humildade é o nutriente da maturidade”.

Hoje todos nós somos carentes deste importante nutriente, para nossa maturidade na vida pessoal, familiar e social. No entanto, com uma tomada de consciência, nós podemos aprender e crescer uns com os outros, na universidade da vida cotidiana. Pois foi nela que Jesus de Nazaré aprendeu, na circularidade da vida familiar e social, a ser simples, manso e humilde de coração (veja Mateus 11,28-30). Foi nesse meio ambiente familiar, social e natural, que Jesus percebeu os acenos constantes de Deus. E, então, começou a se aproximar dos pobres e da Natureza.

Assim, com ciência ou sem ciência, o ser humano de hoje pode ficar atento aos acenos ininterruptos de Deus, no grande meio ambiente da existência humana e cósmica! Portanto, é neste grande e maravilhoso ambiente, que nós podemos dizer positivamente uns aos outro: “Vale a pena viver e CONVIVER, na cotidianidade da nossa vida em família, em comunidade e sociedade”!

Frei Anízio, OFM


Fonte: www.paraibaonline.com.br