Estamos na Semana da Consciência Negra, cujo dia celebramos a 20 de novembro. O que significa esse advento na sociedade brasileira no século XXI?

A primavera do povo negro sempre foi de luta, desafios, resistências e conquistas. Suportaram o peso da escravidão, mas não se renderam. Muito pelo contrário, se rebelaram! Essa é uma forma de dizer “somos fortes”, ou seja, ninguém pode matar o sonho de um povo!

A grande homenagem ao rei zumbi se expressa nas lutas de hoje. Zumbi não morreu, ele vive em cada negro/a que luta!

Celebrar o 20 de novembro significa retomar as rédeas da história e trazer à memória a experiência de vida que nossos antepassados deixaram como legado. É um passado muito presente, almejando um futuro promissor.

Quando falamos de consciência negra, não nos referimos apenas a grupos afro que se apresentam no palco das escolas, das igrejas, das universidades, dos teatros etc. É muito mais do que isso! Significa ver com os olhos do coração, a partir de uma consciência que é negra, de uma identidade negra e de uma cidadania que está sendo reconstruída com o protagonismo afrobrasileiro. Esse novo tempo desponta nas comunidades quilombolas, nos terreiros de candomblé, nas conquistas coletivas contra o racismo e discriminação, nas inúmeras organizações das mulheres negras, no meio da juventude com suas iniciativas contra a morte, nas expressões da beleza negra, nos encontros de formação e tantos outros.

Tornar-se negro é um processo desafiador, é viver a experiência de ter sido massacrada/o em sua identidade, confundida/o em suas expectativas, submetida a exigências absurdas, além de ser constrangida com expectativas alienadas. Foram séculos de negação! Por essa e outras razões, nem toda pessoa negra aceita essa identificação, essa identidade, esse reconhecimento, essa história.

O Censo de 2010 revelou que 51,1% da população brasileira se autodefiniram afrodescendentes. Isso significa que o cenário na questão racial está mudando, graças à força do movimento negro, das pastorais, entidades, e grupos afro, em consequência das políticas públicas brasileiras que tratam de valorizar a identidade de negros e negras através dos programas e ações voltadas para essa população.

Portanto, ter consciência negra é não banalizar a cultura afro, é respeitar as religiões de matriz africana, é lutar por políticas de promoção da igualdade racial, é dizer não à morosidade das autoridades em relação à titulação das comunidades quilombolas, é combater todas as práticas racistas que estão à nossa volta. É assumir o espaço na Igreja e na esfera pública, é lutar pelo direito à terra, moradia, educação e saúde.
É importante avaliarmos se o nosso discurso e nossas ações não estão demonizando Zumbi e santificando a princesa Isabel.

Essa é uma caminhada de negros, brancos, índios e demais etnias.
Foi o caminho de Zumbi ontem e do povo brasileiro hoje!

Axé!

Irmã Silvana S. Gomes
Catequista Franciscana


Fonte: www.cicaf.org.br