“Meu filho estava debaixo de umas árvores, que ficam aqui no fim da rua, depois do almoço. Pegaram ele lá e levaram para o Bom Jardim [bairro distante 4 km do Conjunto Ceará]. É um bairro bonito, mas falam que está muito perigoso. Muito. Estava em casa, quando um homem chegou e pediu para ver uma foto do Cleilson. Mostrei, ele disse que não era o homem morto no Bom Jardim, mas vi que ele mentia. Depois ele cochichou com os vizinhos e eu soube.

Me dói que eu não estava lá. Falam que ele pedia por mim, que ele pedia água. Os moradores do local onde ele morreu se esconderam nas casas, mas ligaram para a polícia, que chegou só tempos depois, e porque os moradores diziam que os bandidos ateariam fogo no corpo. Eles atiraram pedra no meu filho, chutaram, bateram. O caixão precisou ficar fechado no velório e no enterro, ele estava desfigurado.

Não vi todo o vídeo, só uma cena, quando participei de um programa [de TV em São Paulo]. Ouvi muitas mentiras, de que meu filho tinha dívida por droga, de que havia brigado. Meu filho vendia roupas usadas para me ajudar e dizia que o sonho era poder ter dinheiro para terminar essa casa.

Morreu por ódio e preconceito”.

Dandara dos Santos, de 42 anos, levou chutes, pauladas e foi espancada até a morte em plena luz do dia no dia 15 de fevereiro, no Ceará. O crime ganhou repercussão nas redes sociais após o compartilhamento do vídeo que mostra a travesti sendo agredida por um grupo no meio da rua. Em 2017, até o início deste mês, 117 pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) foram assassinadas no Brasil devido à discriminação à orientação sexual. a cada 25 horas, uma é assassinada no país.

Em memória de Dandara e de tantos outros/as que sofrem no anonimato, lembramos também de todas e todos que foram assassinada(os) e que são vítimas das demais formas de mortes simbólicas e psicológicas.

Quantas vezes excluímos, julgamos, desmoralizamos dentro de nossas próprias fraternidades?

Quantas vezes nos calamos ao presenciar situações como essas?

Quantas vezes nos negamos a discutir sobre essa questão?

Quantas vezes somos propagadores das trevas do preconceito ao invés de luzes do testemunho de amor ao próximo/a?


Jesus anunciou um Reino de Amor e Justiça, onde todas e todos devem ter vida plena e em abundância. Estamos nós, jufristas, verdadeiramente empenhados/as na construção do Reino?